16 de jan. de 2012

Thinley Norbu

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O templo em Dollu
Thinley Norbu - Pharping 2010

Eu tive a felicidade ou o mérito de conhecer esse grande ser, certinho, há quase dois anos, em fevereiro de 2010 em Dollu, nos arredores de Pahrping, perto de Kathmandu, no Nepal. Imagino que tenha sido sua última grande aparição para o público; toda noite em um templo entre monges e monjas, brancos, nepaleses, tibetanos, em média 400 pessoas se reuniam para ve-lo. Fazíamos a prática de chuva de benção e depois escutávamos suas transmissões orais. Quando rolavam iniciações e o público duplicava.
Se eu lembro da história, ele foi para consagrar o templo e ficar por duas semanas, mas acabou ficando 3 meses. Dezembro, janeiro e fevereiro. E eu pude "curtir" os últimos 20 e poucos dias ! 


Transcrevemos abaixo a carta que Khyentse Rinpoche escreveu para a sanga, com recomendações de como ver a passagem de um grande iogue.  Thinley Norbu Rinpoche nasceu no Tibete, como o filho mais velho de Dudjom Rinpoche.  Ele foi um grande poeta e autor de importantes textos como A Small Golden Key, Magic Dance, White Sail e A Cascading Waterfall of Nectar.
Agradeço a todos por seus sentimentos e melhores votos, neste momento.
Vivemos em um mundo que nós mesmos criamos, um mundo montado a partir das nossas percepções pessoais, no qual acreditamos por inteiro:  todos os anos, todos os dias, todas as horas, todos os momentos da nossa vida.
Embora esta vida na realidade seja fugaz, durando não mais do que o saltar de uma fagulha, ela é vivenciada por alguns como interminável, arrastando-se por eras e eras.  Já para outros, a experiência deste mundo dura menos que um piscar de olhos, embora na realidade este mundo exista por um tempo infinito.
Para alguns, este mundo não é maior do que o buraco de um caruncho; no entanto, eles se sentem insignificantes e isolados, perdidos em um vazio vasto e sem fim.  Outros percebem o mundo como pequeno − tão pequeno quanto um universo inteiro − e se sentem desconfortavelmente confinados e claustrofóbicos.
A maioria de nós − e aqui eu me incluo − fomos condicionados a viver e morrer em um mundo criado por nossas próprias percepções; e mais, continuamos a criar condições que asseguram que repetiremos o mesmo jogo, vez após vez.
Dentro uma infinidade de possíveis percepções, Thinley Norbu Rinpoche é visto por alguns como uma pessoa comum, por outros como um pai, um professor, um ser perfeito − diferentes percepções determinadas pelo mérito (ou falta de mérito) de quem percebe.
Para pessoas como eu, cuja limitação me leva a vê-lo apenas como meu pai, as condolências manifestadas por vocês são aceitas como apoio emocional.
Para aqueles dotados de “qualidades superiores” − ou que aspiram desenvolver essas qualidades − e que conseguem enxergar Thinley Norbu como um ser perfeito, esta é mais uma oportunidade para pôr de lado percepção não-pura e gerar percepção pura, para que se possa ao final passar adiante de toda percepção.
A “consciência” ou “estado desperto” é a essência dos ensinamentos de Buda − desde a consciência do ar fresco que entra e sai por nossas narinas, até a profunda consciência da natural perfeição.  E em sua compaixão e coragem incomensuráveis, o único propósito e atividade de todos os budas é tocar o sino que nos alerta e nos conduz para essa consciência desperta.
Para os que têm mérito suficiente, a passagem deste grande ser pode ser interpretada como o soar desse sino de alerta, e uma recordação oportuna de todos os ensinamentos − desde a simples verdade da impermanência até a realização da compaixão ilimitada.  Sob esse ângulo, na mesma medida em que a nossa mente obscurecida apreciou e valorizou o aparecimento de Thinley Norbu neste mundo, cabe a ela, agora, apreciar e valorizar o desaparecimento dele.
Ainda que seja tocante saber daqueles que estão a oferecer preces, recitações, lamparinas e tantas outras atividades benéficas nesta ocasião, permitam-me lembrar, a mim mesmo e a todos os interessados, que nenhuma dessas práticas que estamos fazendo são para ele; antes, são para nós mesmos.
Por mais cintilante que seja a lua ao aparecer no céu, seu reflexo não será visto, se as águas do lago estiverem turvas.  Igualmente, é por meio da purificação dos obscurecimentos e da acumulação de méritos em nossa própria mente que conseguiremos, com o tempo, perceber o reflexo de Buda − intacto, completo, nunca afastado.
Então, melhor do que nos congratularmos com o pensamento de que estamos acumulando todas estas práticas nesta ocasião especial, é termos presente que nós já as deveríamos estar fazendo − e que deveremos continuar a fazê-las por toda esta vida, e também ao longo de todas as nossas vidas futuras.  Se imaginarmos, porém, que nossa prática é algo como proporcionar “ritos de passagem” a este grande ser, definitivamente esse não é o melhor caminho a seguir.
Foi-me perguntado que práticas específicas deveriam ser feitas.  Repito, uma vez mais, que nossa prática é a vigilância, ou seja, o “estado desperto”.  Somos seres ignorantes, o que quer dizer que precisamos de constantes lembretes da importância de nos esforçarmos para pousar nessa consciência desperta.  Portanto, todas as atividades do nosso guru − desde quando ele boceja ou tosse, até quando ele aparece ou desaparece − são modos que ele tem nos lembrar de voltarmos para o estado desperto, vez após vez.
E, se estivermos conscientes e despertos, não há prática que seja melhor, nem prática que seja pior.
Escrito e dedicado à iluminação de todos os seres sencientes, na presença do rupakaya de Thinley Norbu.
Nova York.

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